30 novembro, 2019

Elegia do medo

O medo vai subindo a escada degrau a degrau. Lento. Tem tempo.
Aumentam os batimentos cardíacos. Acelera a respiração. Suam as mãos.
Do estado de alerta caminha para o sobressalto, experimenta o temor, a ansiedade. Conhece-se o sabor do terror. Amargo de boca.
A folha branca na ânsia de ser desflorada permanece intacta. Nada se move em cima dela.
A febre vai subindo, toma conta do corpo.
As sílabas cativas no arrepio gélido da espinha.
O terror que as palavras se tornem gastas… obsoletas… enjauladas.
O medo que a língua seja travada, a voz rouca… calada, as mãos sem vida.
Falta de ar…Sufoco. Pânico.
O esquecimento...a ruptura.
Receio de não saber construir enquanto outros manejam o verbo com mestria e eloquência.
...
Nem o ar fresco da noite desperta os sentidos. Tudo se desvanece sob o manto negro de pontos luminosos.
O grito insistente de uma gaivota parece anunciar uma tempestade.
As mãos tremem.
O medo continua a sua odisseia.Lento.
Tem tempo.

os poemas adormeceram no desassossego da idade.

fulguram na perturbação de um tempo cada dia mais
curto e, por vezes, ouço-os no transe da noite. assolam-me
as imagens, rasgam-me as metáforas insidiosas, porcas...e
nada escrevo.
o regresso à escrita terminou. a vida toda fodid@ – e
a alma esburacada por uma agonia tamanho deste mar.
a dor de todas as ruas vazias.
Al Berto, Horto de incêndio

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