17 novembro, 2019

A inércia


Sabe a pouco.  

Um reflexo mecânico do quotidiano, fruto das raízes que nos nutrem e quais nutrimos. Fungo parasita que nos transmite um bem-estar inquieto, um sedativo eterno que nos paralisa, propósito final de crescer e criar mais raízes, até por fim enjaular-nos em grades de conformidade. 
Aparentemente antíteses, a inércia e o movimento são irmãos perdidos, por vezes a primeira usa a segunda como máscara, um truque mestre que engana até as mais engenhosas vítimas. 
Por mais que rompamos a inércia com movimento original, eventualmente o mesmo se torna inércia, batalhando uma cruzada infinita contra a sua força.  

Será essa batalha em vão? Quantos mais confortos terrestres terão de morrer nela? Quantos mais sacrifícios ao altar de uma luta interna?   
Alguns desistem da luta, sucumbindo ao seu forte charme. Que delicioso charme... Será esta a solução?  

Não será, pois a nossa natureza nos guia contra ela, se sucumbirmos um sentimento inadequação se instalaenquanto uma força do fundo espera por gritar a vida, enfrentar os nossos maiores confortos e assim conquistar a inércia. Mas sabemos que depois ela voltará. E voltará. E voltará. 
É essa a luta, um inimigo imortal que apenas adormece com a sua derrota, vampiro imundo que nos assombra milenarmente.  

Mas sabe a muito!

A sua derrota é a melhor vitória, um sabor de ambrósia delicada que nos dedicou olimpo, uma invencibilidade temporária nos faz querer mais, e quiçá, a esperança de um dia cravar uma estaca de madeira no coração do monstro que nos assombra, dissolvendo o seu corpo em energia etérea...  
Uma ilusão. Apenas uma ilusão. Ah! Mas que bela ilusão! 

2 comentários:

  1. Anónimo17:40

    Muito bom!

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  2. Anónimo18:16

    Inércia...inação...imensurável imobilidade. Ironia!!!
    A continuar com essa escrita, John Days.

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