Faz tempo que não durmo como deve ser. Entre um pensamento e outro, somam-se as noites mal dormidas. Os olhos fecham-se, a cabeça, essa, não para. As paredes que me cercam têm assistido a este desatino. Há já alguns dias que estou instalado num canto deste prédio devoluto, palco de prazeres clandestinos e testemunha de atos proibidos. Sinto-me bem aqui, gosto de me sentar na escada em caracol durante longos períodos a olhar para as paredes que me cercam. À minha frente, desfilam desenhos de cores berrantes, mensagens de amor, rabiscos e alguns impropérios na língua de sua Majestade.
Desde a imagem de um Pessoa com óculos tridimensionais a VOTA PCP, passando por FUCKING ASSHOLE! Tudo aqui é permitido. Parece que até o Ribas sorri já
numa das paredes da cidade. Nem esquecido, nem censurado!
Gosto desta linguagem intencional com
aroma de transgressão, destas manifestações artísticas a que chamam arte urbana
e que fazem da cidade uma galeria a céu aberto.
No meio de toda aquela explosão de cores
e significados, destaca-se um miúdo de boné enfiado nos olhos que segura um
cartaz onde se pode ler Quando for grande
quero ser feliz.
Quem não?
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