06 janeiro, 2020

Como será o mar sem os meus olhos

Ando destruído num inverno sem vento de ranger arrastado. A penumbra embala o dia como um frasco de mel escorre líquido virginal por uma colina sem tom. O verde do meu pecado armadilhou-se e então, assim penetra fundo no meu olhar seguindo a fenda do Olimpo. Naufrago nas nuvens corretas. Incenso. Onda após onda, queimo corações como um fio de navalha.

Sem fim, que existirá se não penso na fome traiçoeira do peixe engalanado. Serão só escamas de prazer? Deitada ao meu lado vi-te sofrer, mas sou eu que te consumo no meu dia de dobrar de espinha em equilíbrio numa foice que evitou a morte. Frugal.

Antes o ramo que flutua sorridente entre os dentes sem cor do que o ser que mergulha pés em sal e água. Sigo o caminho que arde de novo nas unhas retorcidas do fogo baço do céu em flor. Então, amemos-nos sem fim, porque na vida cegam gaivotas de sono sem se despedirem do astro.

Sem querer a fome do medo que junta as faces coradas e deixa entreabertos os lábios vermelhos do teu sangue, exangue, parto para o fim, para a alcateia que uiva na espuma.

Frase do título: O Anjo Mudo, Al Berto


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