10 setembro, 2019

Memória


Tenho na memória um camião de brincar.
Ou será real?
Difícil distinguir, com certeza eu brincava com ele.
Nos meus sonhos tem uma impressão distinta, quadro que com cada leve golpe pega a tinta e se desfaz em intenção.
Grande, imponente, um forte azul tingia toda a sua fachada. Conduzido ao lado do mar poderia até confundir algumas gaivotas.
Assim é a memória que, com intenção de artista se cria, e com o tempo se transforma na interpretação de quem o vê, um futuro eu. Observador imperfeito cujas experiências metade guardadas, sombria amálgama do passado, pegam á memória e corrompem a leitura como imperfeitas lentes.
O contexto perdido ao tempo é uma maldição e uma benção, será que me queria lembrar de tudo? Não, viver no passado por vezes é uma desculpa para evitar o presente. Agradeço esta imperfeição para conseguir andar em frente, não remoer ao infinito cada detalhe.
Se há algum que não concorde com o meu bem estar? Substituo por outro.
Quem se queixa senão o futuro eu, cujo contexto não lhe permite distinguir qual o original.
Ah! Como é etérea a realidade!
Momento a momento todo o passado se perde, guardado apenas nas consequências do seu acontecimento.

2 comentários:

  1. Anónimo17:33

    Prosa bonita e inteligente. Gostei muito

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    1. Obrigado, elogios são sempre bem vindos!

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