Há
já um tempo que os dias acordam cinzentos. O sol anda tímido, parece assustado.
Aparece e esconde-se pouco depois atrás das nuvens.
Tive
de vir para a rua. Sentei-me no primeiro café que encontrei e ali fiquei a
olhar pela janela durante muito tempo. Queria escapar ao silêncio assustador
das paredes lívidas e envolver-me no tumulto dos dias. Mas acabei aqui. Pouco
me tem apetecido fazer, a não ser lembrar-te com intermitências. Já não consigo
isolar o teu rosto dos outros e relacioná-lo com os momentos vividos. Os teus
traços vão-se diluindo num nevoeiro espesso. Fecho os olhos, mas de nada adianta.
As imagens desfilam desfocadas, mudas. O peso de uma sombra abate-se sobre
elas. O silêncio apressa-se a regressar. Procuro recuperar alguma lucidez.
Havia já muito que não te escrevia uma linha,
não tinha sido preciso. Hoje é…muito.
Queria
escrever uma coisa. Escrevi outra.
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