Corvos
e pombos pousam nas pedras tumulares do jardim cujos bancos cobertos de musgo
aguardam há muito o descanso dos amantes. Um demónio de pedra lança um olhar
perverso ao anjo de mármore alvo, guardião de memórias em farrapos. Na sombra
dos arbustos e das folhagens, perdem-se duas sombras em gozos e loucuras sensuais,
no silêncio soturno daquele jardim de morte. Um aroma tenebroso paira no ar
cerrado e quente. Debaixo da densa treva e das suas cintilações, caminha
descalça e altiva. Os longos cabelos negros baloiçam escondendo as costas nuas
que o veludo do vestido não cobre.
Segura
vai embriagada de escuridão, carregada de dor e tristeza, um punhal na mão.
Nas veias o sangue pulsa forte, no peito a cadência
dispara, acelerada. Frágil e bela prossegue imperturbável, tendo como cúmplice o
feitiço da lua. Amo intensamente a palidez do seu semblante, a figura esbelta e
recatada, o peito imaculado onde anseio repousar dos desgostos e dos gumes
afiados.
Pudesse eu deitá-la no mármore frio, tomá-la nos
braços e devolver-lhe num beijo o sopro de vida quase extinto. Pudesse eu
adormecer no seu regaço e abandonar-me para sempre com ela num abraço.
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