26 junho, 2019

Escritos de sal

Sedenta de renovação e libertação, atirou os escritos à água. Origem de todas as coisas e para onde tudo retorna, a prima matéria haveria de saber que destino teriam todas aquelas estórias. Escrevera tantas vezes, sentada na areia, com o bloco no colo e o horizonte como pano de fundo. Não havia como não devolver às águas o que em tempos elas lhe tinham oferecido. Quanto mais olhava para aquela imensidão azul, mais vulnerável se sentia… uma embarcação frágil … um barco feito de um qualquer matutino esquecido num banco de jardim.
Ali, onde tantos tinham perdido a vida e desaparecido para junto de criaturas fantasiosas, outros tinham cruzado as águas com coragem e ousadia. Palco de cruéis piratas, intrépidos navegadores e esconderijo de conchas e peixes coloridos, o mar levava-lhe agora as palavras (umas put@s, outras pérolas). Deixou-se estar a vê-las partir, até que anoitecesse. Talvez alguma sereia se apoderasse delas e as transformasse num canto mágico.
Era hora. Descalçou-se, mas não se despiu. Entrou na água até que a espuma branca a cobrisse. Assim como as suas estórias, aquele era o seu Fado.

1 comentário:

  1. "(...)atirou os escritos à água. Origem de todas as coisas e para onde tudo retorna, a prima matéria haveria de saber que destino teriam todas aquelas estórias." ������

    ResponderEliminar