23 fevereiro, 2020

Há ouro no Tejo


Digo que o Tejo é rico em ouro, mas antevejo  algumas reticências sendo nós portugueses deveras crentes e desconfiados.

Diz-nos frei Nicolau de Oliveira, no Livro das Grandezas de Lisboa, datado de 1620:

 “(...) A segunda excelência [do Tejo] é de suas areias de ouro, de que, como acima fica dito, é mais abundante que abundante que todos os outros, como se vê em Plínio, livro terceiro, capítulo quarto, e não há que espantar que ainda hoje vemos resplandecer em suas areias muitas arestas e folhinhas de ouro, e tão fino, e tão puro que, querendo el-rei D. João o terceiro lhe fizessem um ceptro, mandou que lhe buscassem o ouro nas areias do Tejo, do qual se fez um, que os reis têm agora na mão, quando os coroam, ou fazem Cortes, e se guarda em o tesouro de Lisboa."

Plínio, o Jovem, filho de Plínio, o Velho, ficou para a história devido às mais de 700 epístolas que enviou ao Imperador Trajano  (séculos I e II da nossa era), curiosamente nascido na província romana da Hispânia Bética, cuja fronteira ladeava o nosso Guadiana.  As cartas, posteriormente agrupadas em livros, relatavam o quotidiano das gentes de Império e nelas se fez menção, pela primeira vez, ao emergente Cristianismo. 

Ora acreditamos que a riqueza de ouro no Tejo terá despertado a curiosidade do Imperador. Também despertou a dos Mouros que o exploraram, mas tal era a sua abundância que no século XVI, El-Rei D. João III, o Piedoso, fez moldar das folhas puras das minas de Almada, topónimo que significa "a mina, mineral ou metal", um ceptro real.

Situadas algures nas antigas terras da Adiça, Fonte da Telha, só fecharam as portas no século XIX,  não por falta do metal precioso, mas por falta de financiamento para uma escavação mais intensiva. O ouro anda por lá.

Não nado no Tejo nem por ele navego, mas nos dias de Sol, talvez a bordo de um cacilheiro, irei estar atento ao brilhar do ouro, num rio que sempre pensei ser de prata.

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