Na primavera os frutos encarnam nos botões dos ramos em flor. O renascer do tempo e os primeiros calores tentam poetas e amantes. O sol brilha entre as folhas e sentado à tua espera na esplanada junto ao lago aguardo que me perturbes e por dentro bato assustado quando entrevejo os teus lábios brilhantes.
Vem o verão e os frutos empurram as pétalas, crescem das flores fecundas e o doce derrete-se nas polpas. A terra quente e o mar dócil saúdam os corpos acobreados que flutuam na areia. O teu perfume estonteia-me ao fluir-te na pele e a imagem viva dos teus lábios, que não provei, é a ponta insana do universo.
Chega o outono, colhem-se os frutos a explodir de carnudos e solta-se a folha. Confundido com todo este estonteamento de estação pós estação preciso de provar que resta querer no mundo, mas sucumbo cansado ao desejo negado de sentir a que sabem os teus lábios.
Cai o inverno e os frutos são memórias que sobrevivem em potes e as árvores ramos despojados. O frio invadiu os teus lábios desmaiados e estranho como ignoram o calor dos meus, quando todos sabem que por químicas desconhecidas dois lábios gelados ardem em contacto.
Encosto-me às raízes junto ao lago e qual pensador de Rodin busco o porquê das coisas e nada faz sentido enquanto não souber a que sabem os teus lábios molhados.
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