14 fevereiro, 2020

A que sabem os teus lábios?


Na primavera os frutos encarnam nos botões dos ramos em flor. O renascer do tempo e os primeiros calores tentam poetas e amantes. O sol brilha entre as folhas e sentado à tua espera na esplanada junto ao lago aguardo que me perturbes e por dentro bato assustado quando entrevejo os teus lábios brilhantes. 

Vem o verão e os frutos empurram as pétalas,  crescem das flores fecundas e o doce derrete-se nas polpas. A terra quente e o mar dócil saúdam os corpos acobreados que flutuam na areia. O teu perfume estonteia-me ao fluir-te na pele e a imagem viva dos teus lábios, que não provei, é a ponta insana do universo.

Chega o outono, colhem-se os frutos a explodir de carnudos e solta-se a folha. Confundido com todo este estonteamento de estação pós estação preciso de provar que resta querer no mundo, mas sucumbo cansado ao desejo negado de sentir a que sabem os teus lábios. 

Cai o inverno e os frutos são memórias que sobrevivem em  potes e as árvores ramos despojados. O frio invadiu os teus lábios desmaiados e estranho como ignoram o calor dos meus, quando todos sabem que por químicas desconhecidas dois lábios gelados ardem em contacto.

Encosto-me às raízes junto ao lago e qual pensador de Rodin busco o porquê das coisas e nada faz sentido enquanto não souber a que sabem os teus lábios molhados.

Sem comentários:

Enviar um comentário