11 fevereiro, 2020

As conversas parvas


Gosto de conversas parvas entre amigos. São as melhores do mundo.
Não, não são aquelas de circunstância que se têm para preencher silêncios, remendar desconfortos ou para não ficarmos mal após séculos de ausência.
Essas não, não interessam. As conversas parvas são aquelas em que não nos preocupamos se é preciso termos juízo ou não, se temos idade para dizer isto ou para dizer aquilo.
São aquelas em que trocamos a idade por sorrisos, caretas e gargalhadas a explodir. São trocas de palavras confortáveis sem preocupação com a entoação, a sintaxe, a semântica e o politicamente correto.
São fáceis, prazerosas, sabem a fim de tarde, a sol, a ar fresco. São bolinhas de sabão leves e coloridas, aviões e barquinhos de papel.
São balões a subir pelo céu azul.
Sabem a imperial fresca, algodão doce, caramelos de fruta. Dentro da sua leveza e simplicidade são as mais sérias do mundo.
Pensando agora com seriedade, porque se diz que são parvas se não verdade não são? Não têm nada de desadequado ou de inconveniente, de tonto ou de desinteressante.
São felizes, simplesmente.
São festivais de interrogações . O que é que foi? O que é que foi o quê? Eu é que pergunto o que é que foi? Porque me perguntas isso? Sei lá, estás a olhar para mim… assim. Assim como? Estou a olhar para ti normalmente, porquê não posso? Podes, claro que podes. Também estás a olhar para mim. Pois estou. E então porque fazes essa pergunta? Não sei. (E seguem-se gargalhadas terapêuticas.)
São repetições de rábulas humorísticas , canções partilhadas a ver quem imita melhor o original (ou quem pior se aproxima do melhor!). São desenhos em guardanapos de papel, bonecada em toalhas de restaurante .
São brincadeiras de quem não tem vergonha, de quem não teme o cabelo em desalinho, a roupa amassada, o ridículo.

Há conversas parvas que nos salvam o dia e às vezes até a vida. É verdade é.

A conversa mais séria que tive foi uma dessas… parvas. Acabou num abraço e salvou-me a vida.

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