30 março, 2019

A dor de viver sem ser

Chegara alguns minutos antes da hora marcada. Tinha-lhe pedido que não se atrasasse, que chegava às oito em ponto. Entrou no café e varreu rapidamente o interior à espera de o encontrar ali sentado, mas o Rui ainda não tinha chegado. Sentou-se a uma mesa no fundo e pediu um café cheio dentro do qual despejou meio pacote de açúcar. Espreitou o telemóvel na esperança de algum sinal. Nada. Ainda estava escuro lá fora, mas obrigou-se a olhar pela janela para calar a impaciência. Pessoas apressadas para o trabalho, uma fila de carros. Mais nada.

Prometera que dali em diante tudo seria diferente, todos saberiam. E ali continuava com a vida na mochila à espera. Pediu um segundo café que bebeu agora amargo. O relógio do telefone marcava agora oito horas e cinquenta e dois minutos. Nenhum sinal de chamada ou de mensagem. Nada. Deixou uma moeda de dois euros em cima da mesa, levantou-se e, ao dirigir-se para a saída, deu um encontrão num homem alto engravatado. “Acorda! Que merda, logo de manhã a levar com gente desta!”. O corpo trémulo e os olhos marejados de lágrimas desceu as escadas do metro.

Ficou algum tempo na plataforma, imóvel. Deu um passo em frente e pisou a linha amarela. Minutos depois, lia-se no painel eletrónico “Por motivos alheios ao metropolitano, a circulação encontra-se interrompida. Lamentamos os incómodos causados.”
Chamava-se João…

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