Ando a reler "O Ano da Morte de Ricardo Reis", o meu Saramago favorito se não fosse aquele que abraça os Sete-Sóis às Sete-Luas, enfim, adiante...
Confesso que toca-me mais "a Naturalidade" de Alberto Caeiro que o estoicismo de Ricardo Reis, mas ao meu condicionamento filósofo-heteronímico por certo sobreviverá a obra do mestre.
Com um olho bem aberto, outro meio fechado, no meu sacrossanto quarto (soa bem), ando por ali perdido, página atrás de página, percorrendo a Baixa com o odírico, narcotizado pela leitura, quando um alinhamento de espaços me desperta:
"Aos deuses peço só que me concedam o nada lhes pedir...", escreveu o laureado!
Perspectivo logo ali uma rara epifania. Não aconteceu, não que a bela frase não fomente a Inspiração ou que a inspirada frase não transporte a Beleza, mas talvez porque não tinha que acontecer.
Mas ficou cá, a soar, como os sinos da aldeia do Pessoa, em que já a primeira pancada tinha o som de repetida.
Muito se pede aos deuses. Muito eles nos têm concedido e muito eles nos têm negado, ou não fossem deuses, que não existem para cumprir o nosso destino.
Mas nada pedir aos deuses, é como largar um vício, e quando se larga um vício, a vida fica um pouco só, só um pouco, mais monótona, sem sal...
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