18 novembro, 2018

Inação

Finalmente entendo o porquê de me agarrar ao sofá, enquanto sigo pela parede as sombras da minha rua.

De agarrar um livro por abrir, e só ler uma página, e pousá-lo naquele monte que o tempo arrumou...

De ler sempre o mesmo livro!

De acordar manhã cedo, e me sentar na cozinha a olhar pela janela, olhar pela janela a ver o tempo, e ligar o computador só para ver o que vi pela janela.
De querer poupar tempo...

De me arrastar até ao quarto depois de banhado, e barbeado, e perfumado, sabonete de morango, creme de limão, e vestir a roupa alinhada de véspera, para poupar tempo hoje, porque o de ontem já passou!

De abrir a porta e descer as escadas, enquanto me esforço por lembrar o carro, tantas vezes o perdi, como ao tempo.

De seguir em frente até à curva...

...contracurva, campo grande, 2º andar, café, navegar, escrever, falar, descer, comer, café, subir, navegar, escrever, falar, descer, contracurva, curva, campo de ourique, 3º andar, navegar, escrever, falar, comer, café, ler, deitar, sem amar, sonhar.

E porque acordo no dia seguinte a pensar a razão de toda esta rotina, e sentado na mesma cozinha, e olhando pela mesma janela, finalmente entendo que tenho sempre tanto para fazer, mas que é tudo secundário...

Sem comentários:

Enviar um comentário