Fui um dos atingidos pela censura musical, decorrente da social luso-tacanhice política, que durante décadas, anos, meses e alguns dias, se impôs neste belo país à beira-mar plantado, que na altura não medrava, talvez porque à beira-mar só haja areia e água salgada.
Isto vem a propósito de só tardiamente ter tido contacto com os Velvet Underground, banda de Lou Reed e John Cale e Maureen Tucker e Sterling Morrison. O primeiro álbum por aqui editado foi VU, de canções perdidas, em 1986. Mesmo assim foi uma óptima apresentação, o álbum é forte, pleno de guitarras e baladas, como só os Velvet as faziam.
'Jesus, help me find my proper place
Cos I'm falling out of grace´
Os três versos acima, únicos na sua música, "Jesus", são de uma contrição e dedicação religiosa profundas. Estou a imaginar a sua transformação num gospel, com milhares de pessoas em uníssono, a cantar e a agitar os braços. Interessante reconhecer que o Corvo, Rei do Inferno e Anjo da Música, Nick Cave, digno sucessor de Lou Reed, também manipula com mestria o simbolismo religioso. As referências ao mesmo são milhentas na sua obra, culminando porventura em "God is in the House" (a ironia é desvendada no último verso da música, quem duvida vá ouvir tudo de novo).
Help me in my weakness
Os três versos acima, únicos na sua música, "Jesus", são de uma contrição e dedicação religiosa profundas. Estou a imaginar a sua transformação num gospel, com milhares de pessoas em uníssono, a cantar e a agitar os braços. Interessante reconhecer que o Corvo, Rei do Inferno e Anjo da Música, Nick Cave, digno sucessor de Lou Reed, também manipula com mestria o simbolismo religioso. As referências ao mesmo são milhentas na sua obra, culminando porventura em "God is in the House" (a ironia é desvendada no último verso da música, quem duvida vá ouvir tudo de novo).
"Jesus" pode ser ouvido no terceiro e último álbum da banda, The Velvet Underground, quando Reed e Cale já andavam à cabeçada, como acontece com todos os génios que se descobrem a partilhar o mesmo espaço, no YouTube e agora aqui (cortesia do último). Intensamente melódica e porque não profana só por existir, é uma das músicas mais belas e dedicadas ao eu que tive o prazer de escutar.
Sabendo nós dos excessos cometidos por Reed e os outros, a fraqueza das drogas, a pungente heroína, transformada em canção herética e por aí adiante, compreendemos absolutamente mais o que é cair na desgraça do Senhor e porque, por cá, o insolúvel Botas e os senhores do lápis azul, prestamistas do violência censória e do absurdo, se interrogavam ao enviar aos arcebispos de Braga a lista das músicas a incluir no livro negro da censura, que tal como vários percursos literários, nem uns nem outros entendiam.
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