08 outubro, 2019

O grande roubo ao Casino

Portugal, meados de 90. Fomos convidados para um casino. A história do convite é curta, por isso não vale a pena contar. O que é certo é que fomos convidados pelo Chefe de Sala para ver um espectáculo e para jantar de mesa com tudo à borla. 

O cantor tocava piano e era um daqueles que já passaram o seu tempo e andam pelos casinos a fazer pela vida. Fez-me lembrar o Elvis, mas este aqui tocava e cantava uma mistura de jazz e blues, era agradável. 

É claro que não houve daquelas cenas de atirar lingerie para o palco, que essas coisas não devem ser feitas em público e muito menos num casino. A mim, o mais que me aconteceu foi, Arroz Doce vês as minhas cuecas? e eu, olha estão ali no candeeiro do teto, vou buscar o escadote, e ainda a pensar na outra coisa. O pianista cantor deu um bom espetáculo. 

Estávamos ali sentados numa mesa numa sala enorme. À nossa volta era só pessoal dos Globos de Ouro, que ainda não existiam, mas vocês percebem o que quero dizer. Lembro-me do Herman com a sua trupe e de meia vermelha e do Rui Veloso, um dos gajos mais fixes que conheci. Éramos convidados, dá para imaginar, aquilo foi comer e beber, ui, beber, que o vinho era de uvas velhas e o uísque não era de Sacavém, embora eu geralmente não fosse muito esquisito nessas coisas.

Comecei a deslumbrar com um cinzeiro que estava na mesa, juro que foi do álcool. Aquela coisa era linda, parecia de cristal, refletia o arco íris da noite e só servia para sufocar beatas, que desperdício do caraças. Devia pesar um bom quilo. Despejei as beatas para outro, limpei-o da cinza e ela disse, Arroz Doce qué que estás a fazer, e eu, vou levar isto, e ela, mas tu és doido, deixa estar essa merda, e eu, mas é tão bonito, e ela, pois é... Meti-o num bolso qualquer.

Acabou o espetáculo e o nosso anfitrião, aquando das despedidas, perguntou se não queríamos conhecer o casino e nós claro que queríamos e ele era um baril e lá fomos a rir e a cambalear atrás dele e a fazer muitas perguntas. Ele devia estar habituado, estava na boa no seu smoking. Levou-nos aos bastidores, às cozinhas, à sala das televisões onde a mafia via as mesas de jogos (treta que naquele tempo não havia dessas coisas, era porrada e pronto), aos camarotes das estrelas, sei lá eu que mais. 

Estávamos a falar e alguém abre uma porta de repente e eu dou um salto e o raio do cinzeiro caiu aos pés do homem. Ela levou a mão à boca, como quem diz, que surpresa, não tenho nada a ver com isto, eu olhei para o teto, como quem diz, como é que isto caiu do teto e depois para o bolso, como quem diz, como é que isto estava no bolso.

Ele era um gentleman, Como se nada tivesse acontecido disse, se soubesse que tinham gostado tanto do cinzeiro tinha-vos arranjado um novo, e eu a tentar escavar um buraco para me enfiar. Continuámos a visita como se nada fosse e quando saímos lá veio alguém trazer-lhe um cinzeiro, novíssimo, ainda na caixa e tudo, que ele nos ofereceu cheio de charme. Nunca vira tanta classe junta numa pessoa.

O que é certo é que nunca mais gamei cinzeiros nos casinos, toalhas nos hotéis, copos nos bares, nem sequer voltei a fazer xixi na praia, palavra de Arroz Doce.

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