Na noite em que perdeu o sono, Raul fora mais uma vez, à
socapa, como um intruso envergonhado, espiar-lhe a página facebookiana. Entre
outras sem história, três fotos passavam testemunho do beijo obsceno em que
ela, resplandecente, se entregava a um ordinário qualquer, um palhaço. Raul
acordou de dor.
Desde então, entre suores e calafrios, Raul recordava apenas
a loucura do amor passado. O cheiro a gata. As peles a roçar. A voz ocarina. Os
fartos cabelos de fogo. As festas nas costas. A língua acerejada. A brasa das
coxas. O derreter da fenda.
Raul pensava o "Cântico dos Cânticos" mas odiava Salomão. Amava um sonho, vivia um pesadelo.
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