Enquanto não vêm as palavras... ficam as de Eugénio de Andrade.
Cabe ao leitor o papel de intérprete das mesmas, do seu significado, de acordo com o seu modo de sentir.
(Enquanto isso, pode ser que a inspiração bata à porta...)
São como um cristal
as palavras.
Algumas, um punhal, um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
Leves.
tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
Nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade, As Palavras
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