Havia já uns dias que o
pesado portão de ferro do jardim se encontrava fechado. Uma questão de força maior ao que diziam. Por entre as grades de metal, espreitava o silêncio
sepulcral da natureza em sossego. Tentara subir o portão, mas era alto demais,
não havia como saltar lá para dentro. Respondendo ao apelo da sua teimosia,
insistira várias vezes, mas apenas conseguira uns valentes arranhões nas pernas
e algum sangue à mistura. Sentia na pele o chamamento das violetas e dos lírios
do vale que continuavam a crescer na sua ausência. Num desespero descontrolado,
dava a volta ao jardim só para poder espreitar as flores, encostava a cabeça às grades para ao longe sentir-lhes
a vida por entre as mãos. Amava tanto as flores quanto amava o seu homem. Fora
naquele jardim que o vira pela primeira vez num tempo em que os dias eram mais
longos, num entardecer de brisa e de sol. Gostara dos seus lábios finos que ansiava
tocar de novo, assim como precisava desesperadamente de acariciar as suas
flores.Em tempos,entrara no jardim, roubara as flores e fugira para as amar num lugar seguro. Em tempos, os seus lábios tocaram os do homem amado num beijo também ele roubado com sabor a violetas e lírios do vale. Na ausência do toque suave das flores e da pele, revia imagens suas para acalmar a dor. Sentia-as com prazer e apertava-as junto ao coração, desejando as
flores e o homem amado que presos, cada um no seu jardim, quais espinhos ameaçadores, a feriam de saudade.
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