20 março, 2020

As flores

Roubava as flores do jardim, violetas e lírios-do-vale e fugia a correr. Roubava-lhes também o aroma e, assim, castigava as flores apoderando-se da sua essência.Quase conseguia ouvir o seu pranto e ver as cores a desmaiarem de desgosto. Colhia-as com muito cuidado e logo que encontrava um lugar seguro, depositava-as no colo. Demorava-se a olhá-las e acariciava-as suavemente com a ponta dos dedos. Depois, pegava em cada uma delas e absorvia-as longamente até que o seu perfume penetrasse nas narinas e tomasse conta do seu ser. Terminado aquele ritual olfativo e em estado de extâse, estrafegava as flores violentamente num abraço e assim deixava-se ficar deitada no musgo fresco do jardim até que o sono a levasse, apertando as cores e os aromas roubados das flores que tanto amava.

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