Alice
comprou o revólver na loja do cavalheiro de cartola, que vendia chapéus de
coco. Na montra ao lado estavam as botas que vira no catálogo do Ikea e
levou-as. Uma arma precisa de umas botas a acompanhar, pensou Alice, espero que
não sejam difíceis de montar.
Na pistola
ouvia-se o zum zum das moscas. Alice atirou ao sino, que fez plin e a mosca
voltou atabalhoada, à espera de um torrão de açúcar.
À noite, Alice
esperou o Coelho atrás de um sinal de Stop, que ninguém respeitava. Aquele
Coelho era o Inferno, perseguia Alice a gritar ai, ai, estás atrasada, ai ai
estás atrasada. Era enfastiante, Alice não aguentava mais o ai, ai, porque até gostava
de chegar atrasada.
Passou um carro,
que fez Alice pensar em malvas, que até era uma cor bonita. Não parou no Stop.
Depois um camião com três piscinas vazias, ocupadas por três sapos sapientes.
Atrás estendia-se uma mangueira empinada. Alice achou piada e pensou no circo.
Dois
pirilampos aproximaram-se e ela escondeu-se do outro lado do sinal, mas era o Gato
que ri, que riu e lhe piscou um pirilampo. Sai daqui Gato, disse Alice, e o Gato
fechou o sorriso e saiu.
Ao longe
ouviam-se uns passos de elefante. A terra tremia, mas os passos iam ficando mais
miudinhos à medida que se aproximavam. Alice ouviu o ai ai estás atrasada, ai
ai estás atrasada, e dali mesmo disparou seis vespas. As vespas eram mais
certeiras que as moscas e além disso tinham ferrão.
Acertou no
valete de copas que a Rainha, por mau feitio, colocara junto ao coração do
Coelho, que caiu redondo no chão. Alice aproximou-se, com as botas a brilhar das
purpurinas. Gostava de filmes e imaginou-se no desenho da ilustração. Estou
livre, pensou.
Do outro
lado da rua a montanha russa cintilava e rugia. Os carrinhos de choque seguiam
o bando de flamingos amarelos que iam para o Pacífico Sul.
O Sol tocou
Alice, quente, com força. O Sol? Sentou-se, esticou os braços e bocejou um grande
bocejo. Viu a almofada no chão e o desenho do coelho a rir, no meio das molas e
das rodas do despertador, que gemiam baixinho um ai ai, ai ai, ai ai, ai ai.
Alice chegou
tarde ao emprego. Fazia a voz da Alice no filme da Alice. O Sr. Purcel, que era
o patrão e por isso fazia a voz do Johny Deep, amava Alice mas era odiado por
todos. Com voz melosa disse-lhe, a menina Alice está atrasada, não me vai dizer
outra vez que a culpa foi do Coelho.
Alice tirou
a folga ao gatilho.
E depois? A continuar!
ResponderEliminarFoi o capítulo final desta história. Talvez um dia ela ressurja na perspectiva do Coelho...
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