29 agosto, 2019

Os emigrantes pt1 - A saudade

Na aldeia branca as mulheres apressam-se pelas lajes escorregadias. A Igreja gela como o tempo, mas é a única certeza numa vida adiada. O que é o frio comparado com o calor da fé na Virgem e no Senhor, que as aquece todo o caminho até ao coração? Vêm rezar pelos filhos que andam emigrados, a ganhar a vida por terras estranhas e vão voltar para a Festa de Nossa Senhora. Todos os dias repetem as promessas para que cheguem bem e de saúde, que isso é que é importante, se Deus quiser. As saudades são muitas e apertam o peito que doí até ás lágrimas. 

À Igreja os homens não se apresentam, ficam nos campos por necessidade ou vício de semear, ver nascer e crescer. A chuva castiga os ossos e a enxada nas mãos que são um calo, os rins. Essa coisa dos santos e santinhos é para as mulheres e o Padre, a quem descobrem a cabeça a caminho da taberna, não desperta confiança. Porque é que o Senhor lhes fez a vida tão dura, tão sofrida? Mas pensam nos filhos e vêm a sua silhueta nos campos nos dias de neblina. Rezam para dentro enquanto descarregam a sacho na terra, para que cheguem bem e de saúde, se Deus quiser, que isso é que é importante. As saudades são muitas.

Olham a estrada do alcatrão, mas na ponte da ribeira nada passa. A Festa teima em não chegar e a estrada mantém-se vazia.

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